O uso de ambientes virtuais de aprendizagem: Educação à distância na formação continuada de professores

Por Ednilson Rotini


Na sociedade de hoje, a Educação à Distância (EaD) é uma modalidade de ensino alternativa à formação profissional que tem uma importância muito relevante para a democratização do conhecimento, pelo fato de favorecer a igualdade de acesso às informações, assim como o compartilhamento das mesmas.

Além disso, percebe-se cada vez mais que a produção de conhecimentos é marcada por mudanças tanto no processo (ensino/aprendizagem) quanto nos indivíduos envolvidos (educadores/estudantes). Neste sentido, há a necessidade de criação de espaços que proporcionem a reconstrução do conhecimento, o desenvolvimento da criticidade estimulada por diálogos, interações e intersubjetividades, isto é, traz a idéia de uma nova concepção de ambientes de aprendizagem.

Em se tratando da formação continuada de educadores, essa formação deve surgir a partir de seu cotidiano escolar, onde possa haver uma discussão teórica que leve em consideração os reais desafios de sua prática pedagógica. Além disso, precisam possibilitar a aplicação do que é proposto para a prática escolar, evitando que as discussões e reflexões fiquem apenas na teoria.

Assim, para uma formação continuada de qualidade as instituições de ensino devem ofertar cursos que atendam realmente às reais necessidades dos educadores que estão presentes na sala de aula. Neste sentido, a questão referente ao tempo disponibilizado para esses cursos tem apresentado-se como uma dificuldade.

Surge então a Educação à Distância como uma possibilidade a mais na oferta de formação continuada, uma vez que possibilita ao educador realizar seus estudos em horários flexíveis, muitas vezes na própria instituição escolar, em horários reservados para planejamento e formação. 

Tecnologias de Informação e Comunicação e o Processo de Educação

Nos últimos anos, fica evidente o crescimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) que difundem-se na sociedade através de diversas formas como, por exemplo,  computadores, iPods, iPads, e-mails, salas de bate-papo, salas de conferências, redes sociais, entre outras.

Essas tecnologias vêm transformando a maneira de ensinar e de aprender em um processo mais dinâmico e ativo, onde ocorre uma ruptura das relações espaço-tempo, real e virtual, local e não-local. Neste sentido, à medida que se desenvolvem as tecnologias de informação e comunicação torna-se necessário repensar as práticas de ensino a serem trabalhadas na escola. Essas TIC’s apresentam-se como um recurso facilitador no processo educacional, uma vez que na educação, as novas tecnologias devem ser consideradas como mediadoras de um processo mais amplo.

Além disso, é preciso entender que as TIC’s se estabelecem como um recurso auxiliar no processo educacional, não como um fim em si mesmo, mas como um meio. Essas tecnologias recentes, incluindo a Internet, devem submeter-se à educação e não determiná-la. A utilização dessas tecnologias deve ser útil no desenvolvimento das múltiplas inteligências do educando, por meio da proposta de situações significativas de aprendizagem, que facilitem a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades e competências.

Em paralelo a isso, a inserção das TIC’s no campo educacional tem contribuído tanto com a educação presencial como com a educação a distância. Nesse último campo, essas mídias têm apresentado melhor suas potencialidades quando são agregadas aos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), pois quando utilizadas como recursos pedagógicos podem contribuir para um processo de aprendizagem mais significativo, permeado de interação, de trabalho colaborativo e que pode acontecer em espaços e momentos iguais ou distintos.

Por sua vez, a Internet, na qual pessoas interaqem na procura, elaboração, transformação e transmissão de informações, possibilita a construção do conhecimento de maneira cooperativa e cotidiana. E é com esta visão, que a EaD deve promover experiências educacionais no processo de formação continuada de professores utilizando os recursos disponibilizados pela Internet.

A EaD pode ser favorecida por essas tecnologias quando bem planejadas, estruturadas e realizadas com a mediação de profissionais capacitados. Entretanto, é importante levar em consideração que simplesmente essas TIC’s não serão suficientes por si só para um bom projeto de educação à distância. 

Ambientes Virtuais de Aprendizagem e a Educação à Distância

No processo de inserção das tecnologias na EaD, a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem surgem como um grande apoio no desenvolvimento de atividades síncronas e assíncronas. Vale lembrar que a disseminação e o crescente uso da Internet é um fator relevante a ser considerado quando se trata do aumento na utilização dos AVA’s. Além disso, é importante salientar que, desde que haja um suporte tecnológico em constante evolução, é possível favorecer o uso de ferramentas que contribuam e mantenham a constante interação em cursos a distância.

Nesse sentido, um AVA deve ser idealizado de maneira a possibilitar a utilização de métodos de ensino que mantenham o aluno no curso, desenvolvendo relações de interesse e de aprofundamento de ideias. Para isso são fundamentais recursos como uma interface clara e objetiva que permita o acesso a todas as áreas do ambiente, a presença de ferramentas diferenciadas de estudo, a existência de recursos interativos e a possibilidade de atendimento individualizado ao aluno.
  

No caso da EaD, o AVA Moodle, tem-se apresentado como uma ferramenta muito útil. O Moodle (Modular Object – Oriented learning Environment) criado em 1999 por Martin Dougiamas na Curtin University of Technology, em Perth na Austrália, é um software livre, que apresenta recursos de comunicação e gerenciamento de informações que poderão mediar as atividades, tanto no modo presencial quanto a distância. Estes recursos ampliam o espaço para discussão dos conceitos que são abordados em disciplinas, possibilitando que sejam estabelecidas práticas colaborativas de aprendizagem.

Esse AVA apresenta ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas de modo que o professor mediador possa explorá-las de acordo com os objetivos de seu projeto pedagógico. Entretanto, cabe salientar que o conhecimento não se constrói por si mesmo neste tipo de ambiente virtual, sendo de extrema importância a visão que o professor mediador tenha com relação à sua prática educativa.

Além disso, o AVA poderá potencializar a construção de conhecimentos a partir do pressuposto de que é fundamental num curso de EaD que haja interações através das ferramentas síncronas e assíncronas e que exista a colaboração entre os indivíduos envolvidos.

Nesse sentido, na EaD o professor-tutor ou professor mediador deverá estar preparado para atender as especificidades de um curso à distância, dado que o desenvolvimento de instrumentos pedagógicos para a aprendizagem de um determinado conteúdo não depende somente de um denso conhecimento teórico, mas sim de uma prática profissional madura. Por outro lado, os professores-alunos deverão estar adaptados às novas tecnologias de informação e comunicação, assim como se fazerem presentes no AVA, terem disciplina e autonomia e, enfim, promoverem a inteligência coletiva.

Formação Continuada na Modalidade EaD com a Utilização do AVA

A formação continuada de professores na modalidade EaD possibilitada pela utilização de ambientes virtuais de aprendizagem, pode oportunizar a educadores, dispersos geograficamente, um diálogo, uma discussão, uma interação e um intercâmbio de experiências, pesquisas e práticas pedagógicas, favorecendo a construção coletiva do conhecimento.

O diálogo entre os professores, a troca de experiências, a reflexão em conjunto, é o que cada professor consciente e ciente de seus deveres deve buscar sempre na sua formação de docência. Os professores, enquanto profissionais, devem buscar continuadamente conhecimentos, de modo a atualizar-se, inovar-se e adaptar-se as novas TIC’s para dar conta das questões emergentes.

Além disso, hoje é necessário que o professor esteja atento aos novos desafios da prática educativa, incluindo as inovações tecnológicas que vêem para facilitar e promover a aprendizagem. E isso vale especialmente à formação do docente ao se referir a EaD pois, é necessário que essa formação aconteça em três grandes dimensões, a saber, pedagógica, tecnológica e didática.

Na formação continuada, por meio da EaD, há de se considerar a postura do professor-tutor e do professor-aluno. Os professores-alunos precisam estar engajados no desenvolvimento das atividades propostas, isto é, precisam compreenderem-se em desenvolvimento profissional, e não simplesmente inscritos em uma ação de formação continuada. Por sua vez, os professores-tutores, precisam estar preparados para instigar e desequilibrar cognitivamente os professores-alunos, uma vez que para o aprendizado não é o aceso à Internet que criará situações favoráveis, mas, sim a atitude do professor-aluno.

Junto a isso, as TIC’s quando associadas ao campo educacional favorecem a interação das pessoas e das pessoas com as informações e com as tecnologias utilizadas, tornando possível a representação do pensamento e a construção do conhecimento. Por exemplo, o uso adequado dos AVA’s deve estimular a curiosidade, a colaboração, a resolução de problemas, a procura e a contextualização de informações.

A presença de fóruns de discussão e webfólios individuais  nos AVA’s abre espaço para as interações entre o professor-tutor e os professores-alunos. É nesses espaços que os professores em formação podem questionar e/ou concordar e/ou acrescentar as produções uns dos outros, revelando assim a importância do compromisso de se fazer presente no AVA. Já para os professores-tutores as interações ocorridas nos AVA’s possibilitam uma compreensão, mesmo que parcial, da maneira como ocorre a aprendizagem de seus alunos e, desse modo, podem ainda lançar novos desafios e informações de modo a proporcionar mais interações.

O acompanhamento realizado pelos professores-tutores não deve ser apenas para verificar se a produção foi realizada ou não pelo professor-aluno, mas deve, sim, ser um acompanhamento que possibilite analisar como esses professores em formação estão aprendendo em um ambiente virtual.

Do exposto acima, fica claro que a interação entre professor-tutor e professor-aluno, permeada de interações com as informações são fundamentais para o êxito no processo de ensino-aprendizagem em EaD. Ainda, é necessário que os professores (tutores e alunos) desenvolvam uma capacidade de discernir, questionar e refletir sobre as informações fornecidas e recebidas para se chegar ao pleno conhecimento.

PARA SABER MAIS:

Educação a Distância Online.
BORBA, M. de C.; MALHEIROS, A. P. dos S.; ZULATTO, R. B. A. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2007.

Moodle: Estratégias Pedagógicas e Estudo de Caso
ALVES L.; BARROS, D.; OKADA, A. (org.). Salvador: Ed. UNEB, 2008.

O que é o virtual?
LÉVY, P. São Paulo : Editora 34, 1996.

Transposição Didática e Produção de Conhecimento.
GRILLO, M. et al. Revista Presença Pedagógica, Belo Horizonte, n. 46, v. 8, jul/ago. 2002.

 

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