Parque da Ciência: uma viagem pelo conhecimento!

Por Eduardo Cordeiro Uhlmann

Ao entrar no pavilhão introdução do Parque da Ciência, encontramos Sócrates recebendo os visitantes com o adágio “conhece-te a ti mesmo”. Ao seu lado, um painel conta a história do universo, do Big Bang ao surgimento do Homo Sapiens Sapiens. Esta é a viagem proposta aos que se aventuram no Parque Newton Freire Maia, uma viagem que parte do auto-conhecimento, do reconhecimento da própria ignorância e vai até os confins do espaço-tempo e retorna, ciente da sua situação e da responsabilidade enquanto espécie capaz de transformações de âmbito planetário.

Desde que as colônias gregas no Mediterrâneo oriental se tornaram importantes entrepostos comerciais, o pluralismo cultural se estabeleceu, com a presença de diversas línguas, tradições, cultos e mitos. Pelo próprio contraste entre as tradições, esse ambiente pode ter levado a uma relativização dos mitos com os quais cada cultura explicava o mundo. Para Aristóteles, é ali, em Mileto, uma cidade cosmopolita, que surge Tales, o primeiro filósofo.

O termo filósofo, teria sido usado por Pitágoras e por Sócrates, em oposição ao termo sábio (que não caberia a nenhum ser humano, mas somente à divindade). O filósofo é aquele que ao caminhar por uma grande feira, não se deixaria levar pelos jogos, pelos comércios e pelos espetáculos, mas andaria a considerar com afinco a natureza das coisas. O filósofo não é um detentor do conhecimento, mas um amigo da sabedoria.

Neste espírito, surgem com os filósofos gregos algumas noções que constituem um ponto de partida para uma visão de mundo que mesmo profundamente transformada no decorrer dos séculos ainda permanece parte da nossa maneira de compreender a realidade. Entre essas noções, Danilo Marcondes destaca:
  • a physis: o mundo natural, objeto de investigação dos primeiros filósofos (até que Sócrates volta a sua atenção para o ser humano e suas ações);
  • a causalidade: a busca pela explicação da natureza através da elucidação do nexo causal entre os fenômenos naturais;
  • a arqué: o elemento primordial, que daria unidade à natureza;
  • o cosmo: a ordem, a harmonia e a beleza, a realidade ordenada de acordo com princípios racionais, o que tornaria essa realidade compreensível a razão humana;
  • o logos: discurso racional, argumentativo, em que as explicações são justificadas;
  • o caráter crítico: as teorias são apresentadas enquanto “passíveis de serem discutidas, de suscitarem divergências e discordâncias e de permitirem formulações e propostas alternativas”.
Ao trilhar pelos caminhos abertos pelos filósofos, a humanidade aguça suas observações e descortina passo a passo a história do universo, cujo devir fez da Terra o palco perfeito para o surgimento da vida. Aqui, a poeira de estrelas se auto-organizou e se desdobrou em uma miríade de seres que, em um oceano de colaboração proveu o solo fértil e a atmosfera necessária para que surgíssemos.

Seguindo esse caminho, nos deparamos com Isaac Newton, que em sua juventude alquimista buscou  a pedra filosofal e o elixir da longa vida, que ao passar a luz por um prisma abriu um leque de possibilidades e ao se encantar com os teoremas dos Elementos de Euclides derivou por cálculos que descortinaram a natureza exata de mecanismos naturais e impulsionaram gerações na busca da verdade nos mais diversos campos do conhecimento.

Mas os caminhos da ciência não são pavimentados em certezas e aqui no PNFM somos levados a transitar por labirintos onde por vezes encontramos pedras no meio do caminho, e as retas paralelas de Euclides desembocam no espaço curvo através do qual a luz de estrelas distantes viaja ziguezagueando as massas e relativizando os observadores.

E aprendemos a transformar a força dos nossos braços em energia elétrica e vemos a humanidade agigantar o seu poder para transformar o mundo e enquanto a incerteza se insere na própria essência do nosso conhecimento e a matemática anseia descrever o caos.

Aqui, vemos que o mundo é um sistema, que a água que flui por esse sistema é pouca, e que ela é nossa , não da humanidade, mas da comunidade viva, à qual pertencemos e da qual dependemos para existir. Então, quando no jogo do certo/errado nos colocamos mais no errado, percebemos que a maravilha da existência humana é frágil, e que a nossa permanência não pode ser dada como certa, mas que depende da nossa consciência e, principalmente, das nossas escolhas e  das nossas ações.

Então o visitante do PNFM, ainda que se depare aqui e ali com algumas respostas, encontrará fundamentalmente perguntas e a sensação de que urge respondê-las. E lá no centro, o poeta avisa a estas pessoas que andar depressa é devagar demais, que é preciso andar como quem já chegou!

Volte sempre!

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