Uma viagem pelos caminhos históricos do Paraná!

Por Rafael Briones Matheus

Figura 1 - Mural em homenagem aos Tropeiros, Lapa - PR - Fonte: http://laeti.photoshelter.com/image/I0000Yzv5oU9XkFA).
Imagine que você está fazendo uma viagem para qualquer cidade ou região do estado do Paraná. Agora, pense estar percorrendo o trajeto a pé ou montado no lombo de uma mula, atravessando um conjunto de morros cobertos por uma floresta úmida cercada de rios, ou se preferir, em planaltos capeados por uma vegetação de campos. Imaginou? ,

Situações como esta foram vividas pelos índios e por exploradores europeus, que se deslocavam em condições muito piores do que provavelmente você tenha imaginado. A história dos caminhos existentes em território paranaense está basicamente ligada a fatores econômicos pois, já no início do século XVI, desbravadores portugueses e espanhóis procuravam metais preciosos nestas terras. Mas, devemos lembrar que antes da chegada dos conquistadores ibéricos ao Brasil, povos indígenas já estavam estabelecidos no que hoje conhecemos como Paraná. 

Figura 2 - Caminho do Peabiru, Fonte: altamontanha.com).
Tais comunidades tradicionais possuíam uma rede de caminhos locais e até rotas que atravessavam grandes áreas, com é o caso do Caminho do Peabiru (figura 2), cruzando toda a América do Sul, da costa atlântica à do pacifico e datando em cerca de mil anos antes da chegada dos europeus ao continente americano. Segundo BALHANA (1969, pág. 45) o caminho do Peabiru era um sistema de caminhos indígenas, percorrido por portugueses e espanhóis em ambos os sentidos, sendo o principal caminho transcontinental da época. Para LANGE (2008, pág. 79) em 1541, Álvar Núñez Cabeza de Vaca, nomeado pelo rei da Espanha governador da província do Rio da Prata, afim de assumir o cargo em Assunção se utilizou do caminho guiado por índios.

Apesar da ocupação portuguesa ter ocorrido primeiramente na Baía de Paranaguá, algumas atividades de interesse econômico só eram possíveis de serem realizadas nos Campos de Curitiba. Aventureiros à procura de ouro e bandeirantes à procura de índios se deslocavam do litoral para o planalto e vice-versa, possibilitando a abertura de diversos caminhos. Para LANGNER (2008, pág 86), já nas primeiras décadas do século XVII teria sido aberto o Caminho do Itupava (figura 3), ligação entre Porto de Cima (Morretes) e os Campos de Curitiba, tal itinerário recebe um calçamento em 1830. Assim como o Itupava, o Caminho da Graciosa também surgiu primeiramente como trilha em posteriormente, é transformado em caminho.

Figura 3 - Caminho do Itupava - Fonte: http://www.imontanha.com 
A trilha da Graciosa surgiu entre 1646 e 1654 também ligando o litoral e Curitiba e, de acordo com LANGNER (2008, pág 86), era uma alternativa, já que possuía menos acidentes geográficos que o caminho do Itupava. Para CIGOLINI (2004), "através deste caminho, os tropeiros transportavam mercadorias exportadas pelo porto de Antonina. Em 1873, este caminho foi adaptado ao trânsito de veículos, tornando-se a principal estrada de ligação entre o planalto e o litoral". 
Figura 4 - Caminho da Graciosa - Fonte: http://www.turismoquatrobarras.com.br


















Outra rota importante foi o Caminho do Arraial (figura 5), que datado de 1640 outra alternativa de conexão entre o planalto e o litoral, posteriormente conhecido como "Caminho dos Paus"  por ser utilizado para transportar toras de pinheiros durante meados do século XVIII e o trecho final deste caminho é conhecido como estrada da Anhaia, em homenagem à uma antiga moradora da região. 

Figura 5 - Caminho do Arraial - Fonte: http://ceusnei.blogspot.com.br.
Merece destaque também, o Caminho dos Ambrósios (figura 6), aberto em 1838 aproximadamente, interligando a Baía de Babitonga no litoral catarinense aos Campos de Curitiba. É importante lembrar que na ligação entre litoral e os Campos de Curitiba, existe uma barreira natural denominada Serra do Mar, caracterizada pela presença de morros formados pelos imponentes granitos e cobertos por uma densa vegetação, drenada por inúmeros rios. Todas essas características dificultavam a caminhada, ao ponto de tornar estas incursões extremamente extenuantes aos aventureiros.

 Figura 06 - Caminho dos Ambrósios - Fonte: http://ceusnei.blogspot.com.br.
E, por fim, o Caminho dos Tropeiros, também conhecido como Caminho de Viamão (figura 7) , utilizado entre os séculos XVII e XIX para conduzir o gado produzido em terras gaúchas até a feira de Sorocaba em São Paulo. Este trajeto saía de Viamão no Rio Grande do Sul, atravessava terras catarinenses e paranaenses até Sorocaba, interior do estado de São Paulo. Em vários pontos deste caminho, os tropeiros paravam para pouso e também para o gado pastar e, nestes locais, surgiram povoados e cidades, como é o caso dos municípios paranaenses de Castro, Lapa, Ponta Grossa, Piraí do Sul e Jaguariaíva.

Figura 7 - Caminho de Viamão - Fonte: http://sergiopiquetopolis.blogspot.com.br.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LANGE, Francisco Lothar Paulo. Caminhos na Formação do Brasil - 1° Edição, Curitiba, 2008.

BALHANA, Altiva Pilatti. MACHADO, Brasil Pinheiro. WESTPHALEN, Cecília Mari. História do Paraná - 1° edição, Curitiba,1969.

CARDOSO, Jayme Antonio. WESTPHALEN, Cecília Maria. Atlas Histórico do Paraná - 2° Edição, Curitiba, Editora Livraria do Chain,1986.

CIGOLINI, Adilar. MELLO, Laércio de. LOPES, Nelci. Paraná, Quadro Natural, Transformações Territoriais e Economia - 3° Edição, Curitiba, Editora Saraiva, 2004.

SIMÃO, Ceusnei. Caminhos Coloniais. Disponível em: http://ceusnei.blogspot.com.br/search/label/Caminhos%20Coloniais.


Rafael Briones Matheus é Geógrafo do Parque da Ciência.

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