A "primavera" brasileira!

Por Eduardo Cordeiro Uhlmann




Enfim podemos ver os frutos da conquista dos dirigentes brasileiros para sediar a Copa do Mundo e a Copa das Confederações: é o #o gigante acordou. Nos últimos dias, brasileiros de norte a sul vêm tomando as ruas em protestos que há muito não se via no país do carnaval. Por todo lado, a qualidade dos transportes públicos e as altas tarifas desencadeiam mobilizações que ultrapassam o âmbito de partidos políticos e sindicatos e têm a aprovação de grande parte da população brasileira.

Em um momento em que o país está em evidência no mundo todo por sediar a Copa das Confederações, a insatisfação da população encontra bilhões de motivos para contestar a gestão pública, a qualidade de seu serviço e as suas prioridades. Em todas as sedes da Copa do Mundo os belíssimos estádios contrastam com a qualidade de serviços em hospitais, terminais de ônibus, estradas e escolas.

As tensões que há muito se somam em uma terra em que a exploração é lei e a ordem desde que o primeiro pau-brasil conheceu o ferro se dissipam em um movimento que, tal sua amplitude, pode parar tudo. E isso em um momento em que tanta energia se gasta para a reforma da copa, aproveitemos e façamos também a reforma da área de serviços. Tudo junto num pacotão da copa.

A pauta da insatisfação é grande, tantas questões unem tanta gente que o movimento é uma composição complexa de velhos e novos temas, grupos e debates. A energia existe, o ambiente é democrático, as ferramentas de relacionamentos virtuais estão à mão.  É um momento que nos permite olhar para a nossa própria sociedade através das respostas que daremos às situações que emergem:

  • O modus operandi da polícia brasileira e o direito do povo de se manifestar;
  • A infiltração de velhos grupos conhecidos por praticarem depredação, tais como torcidas de futebol e outras rixas urbanas;
  • O direito de todos de se manifestarem e os recentes casos de representantes de partidos políticos e sindicatos que foram impedidos, com violência, de empunharem suas bandeiras;
  • A relação com a mídia: protestos que começaram com repórteres ora levando tiros de bala de borracha, ora sendo acuados violentamente por manifestantes, passaram a ser filmados por cinegrafistas infiltrados e equipes de reportagem em cima de prédios;
  • O caráter pacífico do movimento permitirá que ele seja repetido várias vezes e se torne uma ferramenta da democracia? De um movimento de verdadeira participação da população poderá surgir uma práxis?
  • Haverá uma pauta comum capaz de sustentar esse movimento? Encontraremos uma maneira de reformarmos nossas instituições para que respondam aos anseios da população?
  • Será que sairemos desses episódios com reformas contra a corrupção, pela transparência, será que acabaremos com os votos secretos de pessoas que deveriam representar e prestar contas, e a lei do crime hediondo para desvios de verba pública? E a pec 37? 


Se pudermos aproveitar a oportunidade para aprendermos a participar de uma sociedade democrática, se o momento servir para mostrar o poder de um povo e se fizermos disso um ato consciente, os frutos poderão florescer  por muito tempo e serão colhidos por muitas gerações, tomara!

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