Por: Tiago Henrique da Luz
Figura 01 (capa): Platão (apontando para cima) e Aristóteles, no detalhe da obra de Rafael Sanzio, A Escola de Atenas.
Fonte: Wikimedia Commons
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Para os gregos antigos, o mundo era formado de coisas e a única maneira de entender como esse mundo funciona seria através do pensamento.
Para Platão (século V e IV a.C), esse pensar seria a busca da “ideia essencial”; já Aristóteles (século IV a. C) dizia que existe uma ideia que “está contida e dirige as coisas”. Mas os dois (e tantos outros pensadores gregos) concordariam num ponto: esse pensar deve ajudar a formar uma argumentação – ou seja, uma ideia – que explique o funcionamento do mundo. (NASCIMENTO JUNIOR, 2003, p. 278-279).
Platão deixou todos os seus pensamentos registrados na forma de Diálogos. Neles, os personagens discutem algum assunto (como sobre qual seria a melhor forma de governo, ou sobre a questão da imortalidade da alma).
Ao contrário do que geralmente se pensa, Platão pensava na alma e no corpo como unidos (não como opostos), e os sentidos do corpo são meios pelos quais a alma percebe o mundo. Mas não é possível realmente conhecer alguma coisa apenas pelo que os sentidos podem nos mostrar sobre esta coisa em particular. É necessário pensar a respeito da essência, aquilo que é sempre o mesmo em todas as coisas, e isto escapa aos sentidos. Pelos sentidos, por exemplo, não seria possível saber o que é bom, o que é a justiça ou compreender a prudência.
Este filósofo se preocupava, pois muitas pessoas se contentavam com as impressões causadas pelos sentidos, ao invés de dedicar-se mais a fundo – pensando – na busca do maior de todos os bens: a sabedoria, que é a razão bem exercitada.
O platonismo não abominava os sentidos e sensações, nem os recusava: ele apenas sabia que os sentidos, por si mesmos, não nos mostram a verdade. Por isso os membros da Academia deviam se esforçar em melhorar sua habilidade de conhecer através da razão, vencendo a dependência que tinham dos sentidos e das sensações.
Num dos diálogos de Platão, ele expõe como deveriam proceder aqueles que desejam se utilizar da razão. Da alma que pretende produzir conhecimento, se pede duas coisas: primeiro, “que se concentre sobre si mesma, que ligue os seus passos aos do raciocínio, e que se mantenha sempre presente nele”; segundo, “que tenha uma orientação ou meta”, ou seja, que tome “o verdadeiro, o divino, o que escapa à opinião, por espetáculo e também por alimento”. E por “divino”, Platão queria dizer “verdadeiro”, ou seja, algo além da percepção dos sentidos e que a experiência não pode verificar, algo que só a razão pode alcançar (SPINELLI, 2007, p. 196-198).
Para Aristóteles, o “nada” não existe, então, não existia a ideia de vácuo. Isso significa que, em todo o universo, não havia nenhum espaço que não tivesse algum tipo de matéria. Da mesma forma, Aristóteles afirmava que não poderia existir alguma extensão de matéria infinita, portanto, o universo só poderia ser finito. E no centro dele, estaria a Terra.
Tudo neste universo tinha o seu devido lugar, de acordo com a natureza de cada coisa. Assim, o elemento Terra, sendo o mais pesado, ficava no centro de tudo. Logo em seguida, a Água, formando uma esfera concêntrica, ao redor da Terra. Em seguida, ao redor destas, se encontravam as esferas do Ar e do Fogo (se você perguntasse ao filósofo por que uma pedra cai quando você a solta, provavelmente ele responderia que a pedra é formada por Terra, e o elemento Terra tende a voltar para onde ele pertence: o “centro do Universo”... já o fogo tende a subir, mesmo que você vire o palito de fósforo de ponta-cabeça...).
As coisas são sempre sujeitas a transformações e mudanças, então é a própria natureza das coisas que faz com que elas sofram mudanças, e estes movimentos de cair ou subir são algumas delas. Mas o céu não está sujeito a mudanças: para Aristóteles, as esferas celestes são perfeitas e imutáveis, não são formadas pelas matérias terrestres, mas sim por uma Quintessência, chamada Éter. Não sofrendo transformações, os astros não foram criados, nem deixariam de existir. Essa seria a explicação do motivo de os corpos celestes fazerem apenas seus movimentos circulares ao redor da Terra. Mais tarde, no século II d. C., Cláudio Ptolomeu desenvolveu um modelo astronômico que pudesse explicar todos estes aspectos e toda a complexidade do movimento dos planetas, que nós chamamos de modelo ptolomaico-aristotélico.
Figura 02: As esferas celestes do sistema Ptolomaico.
Fonte: blog l-aquoiboniste
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PARA SABER MAIS
Algumas ideias sobre o modo de pensar na Antiguidade
https://www.youtube.com/watch?v=XhikMCGGYfM
REFERÊNCIAS
NASCIMENTO JUNIOR, Antônio Fernandes. Fragmentos da história das concepções de mundo na construção das ciências da natureza: das certezas medievais às dúvidas pré-modernas. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru , v. 9, n. 2, 2003.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132003000200009&lng=en&nrm=iso>
Acesso em Agosto 2014
PORTO, C.M.; PORTO, M.B.D.S.M.. A evolução do pensamento cosmológico e o nascimento da ciência moderna. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 30, n. 4, Dec. 2008.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172008000400015&lng=en&nrm=iso>
Acesso em: Agosto 2014.
SPINELLI, Miguel. Platão e alguns mitos que lhe atribuímos. Trans/Form/Ação, Marília, v. 30, n. 1, 2007.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732007000100013&lng=en&nrm=iso>
Acesso em: Agosto 2014.
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