O universo na forma de um relógio: as sociedades industriais e a criação de uma visão de mundo à sua forma e semelhança.

Por Eduardo Cordeiro Ulhmann
 
Em “O Tao da libertação: explorando a ecologia da transformação”  Mark Hathaway e Leonardo Boff defendem a ideia de que a maneira como compreendemos o universo influencia a forma de nos relacionarmos com o que há ao nosso redor.

Eles dizem que muitos dos problemas que enfrentamos atualmente, sejam eles ambientais como a extinção de espécies, a poluição, a destruição das florestas, os processos de desertificação, sejam eles sociais, tais como a priorização  do homem em detrimento da participação da mulher, a má distribuição dos recursos, a opressão de uns povos por outros, tem por base uma visão de mundo que permite, justifica e incentiva ações que geram estes problemas.

Cada um de nós tem uma visão de mundo, todos aprendemos a ver o mundo de uma certa maneira e mesmo que possamos não pensar conscientemente nela, essa “cosmovisão” nos dá um entendimento básico da realidade.

Para Hathaway e Boff, as modernas sociedades industrialistas adotam uma cosmovisão da qual podemos delinear algumas características-chave:

1)    “Há uma realidade objetiva que existe fora de nossas próprias mentes;(...)
2)    A mente e a matéria são entidades separadas.
3)    O universo é composto de matéria, uma substância sem vida formada por minúsculos átomos (...) e por outras partículas que são ainda menores, imutáveis e elementares.
4)    Todo verdadeiro fenômeno pode ser percebido pelos sentidos, e muitas vezes isso ocorre com a ajuda de instrumentos. (...) O espírito e a alma são assim descartados, ignorados e marginalizados como coisas subjetivas. O mundo real é reduzido ao mundo material, o qual pode ser medido e quantificado. Nas palavras de Galileu: “O livro da natureza é escrito na linguagem da matemática” (apud ROSZAK, 1999:9).
5)    A maneira de pensar preferida é por natureza a argumentativa e analítica; ou seja, o pensar com um enfoque que caracterize, identifique elementos e defina. (...) Quanto mais objetivo e imparcial o observador, mais acuradas serão suas observações.
6)    A natureza e o cosmo são entendidos em termos mecânicos. O universo se parece com um maquinário gigantesco exemplificado pelos movimentos dos planetas e das estrelas.
7)    Visto que a natureza da realidade é mecânica, podemos entendê-la por completo se identificarmos suas partes (ou reduzi-la a seus componentes) e estudá-las uma por vez. (E esse enfoque é geralmente chamado de “reducionismo”).
8)    A natureza e o cosmo não tem um propósito. Mas há leis eternas e fixas que governam tudo e por todo o tempo. Assim, se as condições forem idênticas, um experimento irá sempre dar os mesmos resultados.
9)    O tempo é entendido como sendo linear. Assim, causas sempre precedem efeitos e todo efeito tem uma causa ou um grupo de causas.
10)    O determinismo e  e as leis mecânicas imperam no cosmo. Se pudéssemos ter um conhecimento absoluto do atual estado da matéria, seria possível prever o futuro com toda a certeza. Qualquer coisa de novo é algo essencialmente impossível.
11)    O Universo é eterno é imutável por natureza, e suas leis são evidência disso. Se considerado em grande escala, sua estrutura não muda com o tempo; a evolução da Terra deve ser entendida como uma anomalia isolada e não como a norma.
12)    Toda a vida na Terra está envolvida numa contínua competição pela sobrevivência. A evolução é movida pelo impulso da dominação, pela “sobrevivência do mais forte”. A mudança, quando ocorre (é só dentro dos limites do determinismo), é causada pela competição ou mesmo pela violência.”

    Os autores afirmam essas suposições são aceitas como verdade sem muita crítica, mas “quando quando começamos a examinar a nova cosmologia que vem surgindo das ciências durante o último século, fica cada vez mais claro que  aquelas suposições podem ser questionadas e que algumas são na verdade extremamente falsas. Contudo (…) continuam a dominar e moldar o entendimento da realidade da maioria das pessoas nas sociedades modernas”.

     O Tao da libertação: explorando a ecologia da transformação / Mark Hathaway, Leonardo Boff – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012

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