O Papa e a Geopolítica

Por Rafael da Silva Tangerina


Inúmeros são os casos da influência do Vaticano na geopolítica mundial. Na Guerra-Fria, João Paulo II usou o seu status de líder religioso para deflagrar campanhas contra o contexto político e militarizado do chamado mundo bipolar. Recentemente, Bento XVI, criou polêmica em não concordar com a entrada da Turquia (país de maioria muçulmana) na União Européia, provocando uma situação embaraçosa para as autoridades desta organização laica e supranacional.

Durante o conclave, muito se especulou à respeito da escolha de um brasileiro como líder religioso. E aí fica a pergunta: e se fosse um brasileiro? O que isso representaria para o país, para o mundo e para a própria igreja?

No caso específico do cenário nacional, chamo a atenção para os dados do censo demográfico, realizado pelo IBGE, que apontam para uma queda constante de pessoas que se declaram católicas no Brasil. Segundo o IBGE, a queda da população católica foi recorde entre 2000 e 2010. A proporção caiu 12,2%: passou de 73,6% dos brasileiros para 64,6%. Em 1991, os católicos eram 83% da população. Desta forma, em vinte anos, a população católica diminuiu 22%, ou seja, em proporção, a Igreja Católica perdeu mais de um quinto de seus fiéis. Os analistas do IBGE apontam que se o ritmo de queda da última década for mantido, em vinte anos os católicos serão menos da metade da população. O recuo dos católicos está diretamente ligado ao aumento de 44% da proporção de evangélicos. Eram 15,4% da população brasileira em 2000 e passaram para 22,2% em 2010. Na década anterior, entre 1991 e 2000, o crescimento dos evangélicos foi muito maior, de 70%.

Será que a escolha de um papa brasileiro afetaria esta tendência? E ainda, o que um líder oriundo do  hemisfério sul (pobre) representaria para o Vaticano e para a Geopolítica Mundial? Acredito que estes questionamentos ganhariam corpo no âmbito da Geografia Cultural, da Sociologia e das Ciências Políticas, caso esta hipótese se confirme.

A seguir, um noticiário da EXAME.COM sobre um possível papado brasileiro.

"Odilo Scherer é brasileiro com mais chances de se tornar Papa


Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, celebra missa na Catedral da Sé, em São Paulo. 13/02/2013 REUTERS/Paulo Whitaker

Fonte - Revista Exame
O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer: o cardeal indicou que a igreja católica tem enfrentado desafios durante seus dois mil anos de vida, mas que agora precisa enfrentar a "pós-modernidade".

SÃO PAULO — O arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer, 63 anos, chefe da maior arquidiocese do país, com mais católicos no mundo, e forte candidato a ser designado Papa, é um conservador moderado, com um lado humano e fama de acessível e bom administrador.

Na próxima semana, Scherer e mais de uma centena de cardeais se reunirão secretamente na Capela Sistina do Vaticano para eleger um deles como sucessor do papa Bento XVI, de 85 anos, que renunciará ao posto nesta quinta-feira, 28 de fevereiro, após afirmar que lhe faltavam forças para desempenhar suas funções.
Scherer, brasileiro de origem alemã, é considerado um dos mais fortes candidatos da América Latina, assim como Leonardo Sandri, cardeal argentino de origem italiana que trabalha no Vaticano como prefeito da Congregação para as Igrejas Ocidentais.

O arcebispo acompanhou o Papa em grande parte da sua última visita ao Brasil -- o país com mais católicos do mundo, 123 milhões numa população total de 194 milhões -- em maio de 2007.

"A melhor aposta"


"Eu diria que Scherer é a melhor aposta", afirmou o americano John Allen Jr, respeitado expert em Vaticano e autor de vários livros sobre a igreja católica.

"Ele tem uma boa reputação e é admirado aqui (no Vaticano)", disse Allen recentemente ao jornal O Globo.
O padre José Antonio Trasferetti, professor de teologia moral da PUC de Campinas, conhece Scherer muito bem.

"Fomos colegas de 1989 a 1991, onde fizemos juntos nosso doutorado em teologia", disse Trasferetti à AFP.

Scherer "tem todas as qualidades para ser um bom Papa", estimou o padre, que o descreveu como um "conservador moderado" em assuntos como doutrina e temas sociais.

"Ele tem a cabeça aberta, é um bom comunicador e um bom administrador. É a pessoa certa para abrir um diálogo entre as várias facções dentro da Igreja", afirmou Trasferetti.

Segundo ele, Scherer conhece bem os problemas sociais de São Paulo, uma enorme cidade cosmopolita de 11 milhões de habitantes onde supervisa paróquias com altos níveis de pobreza, violência, desemprego entre os jovens e falta de serviços básicos.

Pós-moderno


No site de sua arquidiocese e em jornais, o arcebispo de São Paulo expõe regularmente suas opiniões sobre assuntos importantes. Também é muito ativo no Twitter e tem mais de 20.000 seguidores em sua conta @DomOdiloScherer.

No passado, ele criticou a Teologia da Libertação que nasceu na América Latina e foi marginalizada por Bento XVI por utilizar "o marxismo como ferramenta de análise", ainda que tenha apoiado sua luta contra a injustiça social e a pobreza.

Scherer é um tradicionalista, preocupado com a crescente força das igrejas evangélicas no Brasil em detrimento do catolicismo.

Os cristãos evangélicos subiram de 26,2 milhões (15% da população) em 2000 para 42,. milhões (22%) em 2010, enquanto a proporção de católicos caiu para 63%, contra 73,6% em 2000.

No passado, ele criticou o estilo evangélico do famoso padre Marcelo Rossi, fenômeno que já vendeu milhões de CDs, DVDs e livros.

"Os padres não são celebridades", disso Scherer em 2007. "A missa não deve transformar-se em um show".
Mesmo assim, Scherer assistiu em novembro passado à missa de inauguração do maior templo católico do Brasil, ministrada por Rossi.

No início de fevereiro, o cardeal Scherer indicou que a igreja católica tem enfrentado desafios durante seus dois mil anos de vida, mas que agora precisa enfrentar a "pós-modernidade".

O arcebispo se referia assim a "uma cultura sem valores de referência sólidos" e a uma subjetividade "que leva ao relativismo total".

O brasileiro também estimou que a nacionalidade e a idade não devem ser fatores essenciais para eleger um novo Papa.

Scherer nasceu em 21 de setembro de 1949 numa família de origem alemã de Cerro Largo, uma cidade de 13.000 pessoas do Rio Grande do Sul no coração das missões jesuítas guaranis.
Ordenado sacerdote em 1976, Scherer obteve um doutorado em teologia sagrada em Roma, em 1991.
Integrou a Congregação para os Bispos da Cúria Romana de 1994 a 2001 e foi secretário geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) de 2003 a 2007."

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