Inovação científica: dúvidas e controvérsias!

Por Leandro Bossy Schip

Nesta série com três artigos destacarei aspectos curiosos da Ciência acadêmica e as dificuldades em desenvolver idéias inovadoras, bem como o ceticismo quanto a produção científica informal, e esta, embora produzida fora dos grandes centros de pesquisa, também pode trazer consequências para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.

Quando pensamos em Ciência é importante tentar distinguir o que é Ciência pura do que é uma consequência dela como a Tecnologia. O leitor que já tenha exercitado este debate teórico pode ter uma noção das dificuldades envolvidas em distingui-las portanto, é comum que ocorram confusões dada a complexidade dessa discussão. Como não é o objetivo central deste artigo aprofundar este debate, deixarei algumas referências no final para o leitor interessado em fazê-lo. Contudo, pensar que Ciência é algo que precisa ser construído independentemente de seu caráter utilitário é quase consenso no meio acadêmico. A Matemática é um bom exemplo disso, visto que nem todas as pesquisas nesta área têm aplicação no mundo real ou, seguramente, servirão para resolver problemas cotidianos, mas muitas são as Ciências que bebem na fonte da Matemática, transformando em ferramentas suas aplicações abstratas.


O processo de produção cientifica precisa ser meticuloso e sistemático, a fim de evitar erros ou detalhes que passem despercebidos. Esta regra parece funcionar bem no meio acadêmico para garantir o controle de qualidade dos resultados científicos alcançados embora, quanto maior for este refinamento, maiores serão também os custos e o tempo de desenvolvimento de uma pesquisa. E, certamente, o aumento de custos representa também uma maior cobrança por resultados, e este é um agente catalisador para inúmeros escândalos relacionados com fraudes de dados ou roubo de idéias.

Cientista sul-coreano Woo-Suk Hwang, em 2004, publicou na revista Science, um artigo científico descrevendo uma bem-sucedida obtenção de embriões humanos por clonagem. Posteriormente, provou-se que os resultados foram forjados.
Descobertas de natureza revolucionária ou que mudam drasticamente a compreensão sobre a natureza ou a maneira como nos relacionamos com ela são muito raras. A maior parte das pesquisas publicadas caminha a passos de tartaruga, escalando um degrau de cada vez. Entretanto, ao longo desta série, destacarei três trabalhos científicos que geram muita controvérsia no meio acadêmico quanto a sua autenticidade, contudo, se forem mesmo autênticos representariam idéias revolucionarias na compreensão de uma parte da Física conhecida, trazendo consequências singulares que afetariam em muito a produção de energia e a exploração espacial, por exemplo.

O primeiro destaque que faço é para uma pesquisa realizada na Universidade de Tecnologia de Tampere, na Finlândia, em 1992, coordenada por um pesquisador russo chamado Yevgeny Podkletnov. Em seu experimento, Podkletnov relatou uma descoberta acidental enquanto realizava testes com um disco feito de um material cerâmico que se torna supercondutor quando resfriado. Colocando o disco sobre um campo magnético artificial gerado por um conjunto de bobinas, é possível fazer o disco levitar, propriedade esta já conhecida nos materiais supercondutores. Porém, Podkletnov controlou precisamente a freqüência de acionamento de bobinas que induzem uma corrente no disco com intenção de impelir rotação no mesmo, como em um motor de indução. Podkletnov relatou ter percebido que a fumaça do cachimbo de um membro da equipe subia em uma coluna vertical, logo acima da montagem experimental quando o disco era colocado para girar a pouco mais de 3 mil rotações por minuto. Intrigado, Podkletnov conduziu uma série de testes para investigar o fenômeno. Em um dos ensaios, foi pendurada uma bola de golfe acima da montagem, e esta, ligada a uma balança muito sensível, o que permitiu observar que havia uma redução no seu peso que podia chegar a até 2% do peso da bola, quando o disco girava próximo de 5 mil rotações por minuto. Observaram que o disco em rotação agia como um escudo para o campo gravitacional e era capaz até de atravessar o piso, afetando o peso de objetos do andar superior. Apesar do valor dessa redução de peso parecer pequena, o fato de ser mensurável já representa uma descoberta incrível. Uma ideia que surgiu em seguida foi de empilhar vários discos um sobre o outro, a fim de somar o poder desses escudos e assim, eliminar completamente o peso do objeto.

Yevgene Podkletnov
O chamado efeito Podkletnov, como ficou conhecido, ainda gera muita controvérsia no meio acadêmico devido às dificuldades técnicas envolvidas para reproduzir o experimento. Varias instituições renomadas como a Agência Espacial Americana (NASA) passou a conduzir testes próprios, mas que alegam não terem sido concluídos e até mesmo a fabricante de aviões Boeing teria despertado interesse pela descoberta, segundo notícia divulgada pela BBC de Londres, que alega que haveria um financiamento da Boeing para um programa de codinome “Projeto Grasp” a fim de reproduzir o efeito e, se possível, desenvolver tecnologia a partir do fenômeno. Contudo, Podkletnov é amplamente criticado por muitos pesquisadores e cultuado por instituições de vocação duvidosa e sites que promovem conteúdos sensacionalistas como discos voadores e teorias conspiratórias, fato que não ajuda a convencer os mais céticos que possa se tratar de um fenômeno real.

REFERÊNCIAS:

BBC NEWS Segunda-feira 29 de julho, 2002.

Platt, Charles (1998/03/06). "Breaking the Law of Gravity" - Wired

Yevgene Podkletnov, Weak gravitation shielding properties of composite bulk Y Ba2Cu3O7−x superconductor below 70 K under e.m. field, 1997, Cornel University Library.

http://www.americanantigravity.com



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