Por Ednilson Rotini

Brecht (1967) contribui relatando que ouvia que a arte e a ciência são dois patrimônios valiosos, porém pertencentes a domínios completamente diversos da atividade humana. Contudo, ele confessa: por pior que isso possa parecer (para ele), sem utilizar algumas ciências, não teria a menor possibilidade de cumprir sua missão como artista.
João Batista Nascimento, professor e pesquisador de Matemática Pura e Metodologias de Ensino Matemático da Universidade Federal do Pará (UFPA) afirma que, utilizando os recursos da linguagem teatral - os quais possuem alto poder de entendimento de conceitos e grande teor lúdico, pode-se atrair o interesse e a curiosidade dos estudantes, criando também, um ambiente favorável à aprendizagem e superando aquele receio comum que as operações matemáticas costumam apresentar nas histórias escolares (LEITÃO, 2004).
O referido professor é o criador do projeto “Matemática & Teatro – da construção lúdica à formalização”, onde é desenvolvida uma peça intitulada “De Ponto em Ponto Formamos...”, que possui atos com nomes sugestivos como Oh! Sujeito Quadrado, Triângulo Amoroso, Um Círculo Vicioso, Tem que Andar na Linha e Ponto Finalmente. Durante a encenação destes atos são trabalhados vários conceitos de geometria plana.
No trabalho do professor João Batista, a metodologia consiste em, primeiramente, identificar, pesquisar e estudar os elementos e conceitos matemáticos, bem como as possíveis relações destes com o cotidiano envolvido na peça. Num segundo momento, são realizadas sessões de leitura e construção do roteiro, das falas, diálogos e adaptações, pautadas pelas características do público-alvo, pelo rigor dos conceitos matemáticos, aprofundamento da aprendizagem e pesquisa matemática, inclusive com a possibilidade de ampliações e generalizações.
Outro trabalho de grande relevância diante de seu pioneirismo foi o realizado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Jean Lauand, que traduziu uma peça escrita, produzida e montada pela monja Rosvita de Gandersheim no século X, intitulada Sabedoria (Sapientia, no título original). Na cena III há uma autêntica aula de matemática medieval unindo o teatro ao ensino. Segundo o autor:
Se há uma época onde a cultura tem forma popular é a Idade Média. Tal afirmação é válida para diversos aspectos da cultura medieval. Detenhamo-nos no caso do ensino de matemática. A queixa que sempre se ouve hoje contra o ensino de matemática elementar é de que é pesado, árido, carente de motivação etc. Bem diferente, (...) é o ensino medieval. A pouca matemática que se conhece na época é ensinada de modo vivo, prático, atraente e bem-humorado. (LAUAND, 1986, p. 95).
Segundo Ferrari (2005), as histórias que Malba Tahan escreveu ao longo de sua carreira são ótimas opções para se trabalhar o Teatro Pedagógico e ensinar Matemática. Um exemplo apresentado pelo autor é o de uma escola em São Paulo que utiliza a obra de Malba Tahan numa integração entre Língua Portuguesa, Matemática e Arte. Nessa atividade, os contos do livro O Homem Que Calculava são divididos e sorteados entre os grupos de estudantes. Inicialmente, é realizada uma pesquisa sobre quem foi o autor e, em seguida, a leitura dos capítulos com o intuito de adaptá-los para a forma teatral. O interessante é que “ao mesmo tempo que o conto se torna uma pequena peça de teatro, o desafio correspondente deve ser solucionado e representado por esquemas e desenhos em transparências que, posteriormente, são mostradas a toda classe e discutidas” (FERRARI, 2005, p. 2).

Para aqueles que pretendem trilhar o caminho do Teatro/Educação, Diniz (1995), apresenta, em seu livro, algumas peças teatrais como apoio. Duas delas merecem destaque, pois abordam temas matemáticos: a denominada “Filósofos Matemáticos” e a outra, “Conjuntos Matemáticos”.
REFERÊNCIAS
BRECHT, B. Teatro Dialético. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1967.
DINIZ, G. J. R. Psicodrama Pedagógico e Teatro Educação. São Paulo, SP: Ícone, 1995.
FERRARI, M. Teatro + Malba Tahan = Matemática Divertida. In: Revista Nova Escola, Edição 182, São Paulo/SP: Abril, 2005.
LAUAND, L. J. Educação, Teatro e Matemática Medievais. São Paulo,SP:Perspectiva, 1986.
LEITÃO, J. Teatro Favorece Aprendizagem de Matemática no Pará. Belém, PA, 2004. Disponível em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=21324. Acesso em 16 ago. 2013.
0 Comentários