Os descobrimentos geográficos realizados por navegantes portugueses na segunda metade do século XV e o descobrimento da América em 1492 transformaram completamente o imaginário geográfico europeu. As fronteiras do mundo conhecido se alargaram rapidamente e traduziram-se em uma impressionante obra cartográfica, que no curso de algumas décadas transformou-se de maneira vertiginosa, abrindo a cosmovisão europeia sobre o mundo e trazendo consigo a modernidade ao Ocidente.
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Figura 01 - AmericasiveIndia Nova etMagnae Gerard Mercator –
Michael Mercator, 1602. Fonte: raremaps.com
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O progresso cartográfico esteve intimamente relacionado ao aperfeiçoamento das técnicas de navegação, base necessária para viagens interoceânicas. A obra de Ptolomeu, redescoberta em meados do século XV e difundida através da imprensa, foi de particular importância ao fixar métodos de cálculo de latitudes e longitudes, e por enfatizar a importância de se estabelecer as bases do sistema de coordenadas, permitindo a navegação em mar aberto através da observação astronômica, técnica difundida pelos livros de cosmografia durante o século XVI. A projeção plana de Gerard Mercator significou um importante avanço, transformando completamente os métodos de confecção cartográfica.
Os descobrimentos geográficos realizados por exploradores e soldados espanhóis no novo mundo foram logo centralizados nas mãos da Casa de Contratação, instituição criada pela monarquia espanhola para supervisionar e controlar a navegação para as Índias. Durante o século XVI foi a organização de investigação cartográfica mais importante da Europa, contudo, o caráter empírico de sua cartografia e a confidencialidade em que se manteve, limitou seu impacto na sociedade.
O trabalho de difusão dos novos conhecimentos geográficos ficou a cargo dos impressores centroeuropeus, em particular dos Países Baixos, centro mercantil e financeiro da Europa setentrional, que no final do século XVI e início do século XVII se converteu no principal centro cartográfico do continente. A popularização da imprensa e o uso da gravação em madeira e posteriormente no cobre tornaram os custos da confecção e reprodução de mapas mais acessíveis, gerando uma verdadeira idade do ouro da cartografia. Em 1570, Abraham Ortelius publicou o primeiro atlas moderno da história, dando início a época de auge dos editores holandeses. Nas décadas posteriores, seu trabalho foi imitado por outros importantes cartógrafos, como o próprio Gerard Mercator, Cornelis de Jode, Willem Janszoon Blaeu, Johannes Janssonius, Frederick de Wit e Nicolas Sanson D’Abbeville.
A descoberta de novos territórios obrigou a revisão da figura do mundo que propuseram Ptolomeu e outros clássicos da antiguidade. Aceitou-se a existência de um novo continente e a sua representação sofreu numerosas variações através do tempo. Em 1507, este foi batizado de América pelo editor alemão Martin Waldseemüller, nome consagrado pouco tempo depois por Gerard Mercator.
Em 1597, CorneliusWyytfliet publicou uma das primeiras descrições do novo mundo, em que sem dúvida, abundavam detalhes fantasiosos. As utopias que gerou o descobrimento da América traduziram-se em constantes referencias a lugares míticos, como a Cidade dos Césares, El Dorado ou o fabuloso país de Quivira. Devido a isso, o início da cartografia americana esteve marcado por inúmeras imperfeiçoes, muitas das quais foram somente esclarecidas durante o século XVIII, graças as grandes explorações científicas realizadas por franceses e ingleses. A era da razão derrubou os últimos vestígios de utopia na cartografia americana, e abriu caminho para a representação científica do território.
REFERÊNCIAS:
Molinari, Diego Luis. El nacimientodelnuevo mundo: 1492-1534: historia y cartografía. Buenos Aires: Kapeluz,1941.
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