A História Natural e o Expansionismo Europeu

Por:  LUIZA VALERIA CANALES BECERRA

Figura 01: Systema Naturae de Carl Linneo. Fonte: wikimedia.org


Em 1735, ocorreram dois importantes eventos que indicam importantes mudanças na forma como as elites europeias compreendiam suas relações com o resto do mundo. Foram eles: a publicação de Systema Naturae de Carl Linneo, que propôs a classificação das espécies vegetais do planeta e a primeira grande expedição científica da Europa, denominada La Condamine. A partir desse momento o que se viu foi o surgimento da consciência planetária da Europa, caracterizada pela exploração interior e pela construção de seu significado em escala global, através das ferramentas descritivas da história natural.

Em meados dos últimos anos do século XVIII, a exploração interior chegou a ser objetivo mais importante da imaginação expansionista. Esta mudança teve importantes consequências para a literatura de viagens, ao propiciar o surgimento de novas formas de conhecimento e autoconhecimento europeu, novos modelos de contato além das fronteiras da Europa e também novas maneiras de codificar suas ambições imperiais.

Na segunda metade do século XVIII, todas as expedições científicas ou não e todos os viajantes, cientistas ou não, tiveram alguma relação com a História Natural. A coleta de exemplares, a criação de coleções, a denominação de novas espécies, o reconhecimento das já conhecidas chegou a ser um tema obrigatório em viagens e nos livros de viagens. Pois com o estabelecimento do projeto global de classificação, a observação e catalogação de espécies se tornaram narráveis.

A ciência operou como um multifacetado espelho com o qual toda a Europa podia refletir-se como um “processo planetário” em expansão, sem a competição, exploração e violência acarretadas pela expansão comercial e política e pela dominação colonial dos três séculos anteriores. Comparado ao navegante ou ao conquistador, o naturalista coletor é uma figura benigna cujos poderes transformadores atuam nos contextos domésticos do jardim ou da sala de coleções, visto que a História Natural não se propõe a causar efeito algum no mundo.

Em resumo os naturalistas eram considerados servidores das aspirações de expansão comercial europeia. Já que a História Natural trouxe meios para narrar viagens e explorações terra adentro que não objetivavam o descobrimento de rotas comerciais, mas a vigilância territorial, a apropriação de recursos e o controle administrativo. Assim, em troca de viagens gratuitas com companhias comerciais e outros benefícios, os naturalistas produziam conhecimento comercialmente explorável.

Portanto, a História Natural como forma de pensar rompeu as redes existentes de relações históricas e materiais entre pessoas, plantas e animais.

REFERÊNCIAS:


PRATT, Marie Louise. Ojos Imperiales: Litertura de viajes y transculturación. México: Ed. Fondo de Cultura Económica, 2010.

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