Tupis e Tapuias na Concepção Européia


Figura 01 - Mulher tapuia. 
Fonte: Universidade Federal do Paraná
Representações dos índios produzidas na segunda metade do século XVI dizem respeito a uma iconografia da época, que relatam associações que o olhar europeu tinha quanto aos costumes, principalmente aos elementos ligados a religião e valores cristãos.

O historiador Ronald Raminelli, em seu estudo sobre os índios de Albert Eckhout salienta que, segundo a pregação jesuítica, estabeleceu-se uma visão evolutiva dos povos, ou seja, quanto mais distantes dos costumes europeus, mais inferior seria a atribuição dada aos sujeitos representados. Acreditando nisso, aparecem nos livros de hábitos, elementos representativos que davam significados a aparência, ao comportamento e a disposição de espírito.

Dentro desta perspectiva, a gravura do livro de Jean de Léry de 1578, a imagem Guerreiros tupinambás, publicada no livro Le Voyage au Brasil, o tema de guerra é construído num arquétipo mitológico, que enaltece uma postura guerreira e cruel, possui atributos de bárbaro feroz, ímpeto guerreiro e canibal, identificado pelas marcas cravadas em ritos canibalescos. O corpo nu indica a diferença entre o cristão e o selvagem. Cabe lembrar que na época destas imagens a escola de pintura era a do renascimento firmada no racionalismo e, portanto, as imagens deveriam cumprir uma série de discursos alheios às questões apenas visuais.

Figura 02: Guerriers Indiens du Brésil. XVI è siècle.
Fonte: Gallica
Na imagem abaixo estão parte da série de imagens elaboradas por Albert Eckhout na década de 1640 sobre Tupis e Tapuias.

Em suas produções Eckhout manobra as ‘disposições do espírito’, também trabalha com a escala evolutiva comentada acima e aborda os assuntos sobre antropofagia, porém os arranjos acontecem num período distinto e inserido no Barroco. Entre as características deste  estilo presentes nas representações de Eckhout cita-se a técnica avançada; particularidades culturais da região; na arte barroca além da igreja também mercadores e burgueses tornam-se mecenas; domínio da luz para obter o máximo de impacto emocional.

Uma série de elementos decorativos, deslocamento de simbologias e discursos outros de colonialismo integram as imagens da população indígena. Para exemplificar a teoria de Raminelli, no tema da guerra se insere artefatos de troca entre europeus e índios, demonstra sua dependência (uso do ferro) e sua domesticidade. A antropofagia representada em Eckhout é deslocada da exclusividade masculina para a feminina (tapuia), além disso, cabe salientar a alegorização do tema, quando do uso decorativo dos componentes das representações.

Figura 03 – O binômio Tupi-Tapuia
Fonte: Universidade Federal do Paraná

Por: Eloana Santos Chaves


REFERÊNCIAS

RAMINELLI, Ronald. Habitus canibais. Os índios de Albert Eckhout. In: HERKENHOFF, Paulo (Org.). O Brasil e os holandeses (1630-1654). Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999, pp. 104-121

ALBERTI, Leon Battista. De Re aedificatoria. Madri: Akal, 2007. [1485]

_________Da Arte Edificatória. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011. [1485]

Por dentro do Barroco. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/barroco/home.html

Postar um comentário

0 Comentários