Uma história do Design e da arquitetura à época do funcionalismo - Parte III


Para Rafael Cardoso Denis, o surgimento do trabalho do design significa mais que uma simples reação à industrialização, significa um indicador de resistência ao capitalismo industrial.  Os primeiros objetivos inserem o design como meio de reforma social. Esta concepção de prática reformadora nasce no meio intelectual e no campo político.

Denis descreve as preocupações dos teóricos quanto ao encontrar soluções para a melhoria da qualidade do produto, pensadas sob o prisma da indústria. Denis aponta John Ruskin como um crítico da exploração do trabalho, a qual refletia no produto final. Outro expoente que pensava nos mesmos moldes foi William Morris, que demonstrava grande preocupação com a qualidade dos produtos. Sua concepção de design ganhou força com a aceitação cada vez mais forte pelo público consumidor. Ao valorizar a mercadoria, Morris conseguiu prestigio como autor e investiu em frentes de trabalho que tinham o mesmo intuito: o de melhorar a qualidade em todos os níveis da produção.

Surge, através da exposição de Morris e de outros designs, a organização do movimento chamado Arts and Crafts. Os integrantes (muitos deles socialistas) do movimento levantavam a bandeira da “recuperação dos valores produtivos tradicionais”( DENIS, 2008.p.82)

Rafael Cardoso Denis explica que nos primórdios, o consumismo se desenvolveu lentamente e em diferentes níveis e que isso acompanhou o desenvolvimento de sociedades de consumo específicas. A escala de produção industrial não determina a evolução do consumidor atingido pelo trabalho de designers, os quais operam na criação de produtos  supérfluos e efêmeros ( Fig.1).


Fig. 1: Chaleira eléctrica. Design de Peter Behrens para a AEG (Allgemeine Elektricitäts Gesellschaft), Berlin, cerca 1909. 
Fonte: tipógrafos .net
O consumo como atividade de lazer se expande na segunda metade do século XIX na Europa com a criação das lojas de departamentos. Segundo Denis, as lojas faziam mais sucesso entre as mulheres, já que não tinham outro entretenimento, trabalho ou estudo onde pudessem frequentar livremente. Assim, lugares como Paris, Nova York, Londres e Rio de Janeiro ganharam lojas de departamento.

Outras inovações foram os salões de exposições e um tipo de catálogo de objetos, os quais foram criados dentro do espírito industrial que se forma a partir do século XVIII, e passaram a despertar interesse dentre os industriais (fig.02). Os supérfluos e produtos de luxo passam a aumentar de produção devido ao barateamento destes produtos, com a inserção de maquinários e racionalização do processo industrial.

Fig. 02: Cartaz da feira dos artesãos 1914, Associação de artistas (Deutscher Werkbund)
Fonte: tipógrafos.net/

O autor discorre sobre o interesse do grande público moderno sobre os espetáculos paralelamente ao crescimento de grandes centros urbanos. Assim, as exposições de produtos industrializados também ganharam uma identificação de entretenimento com o público frequentador. Surge neste movimento uma produção publicitaria voltada a despertar e ao mesmo tempo sanar os desejos do público [e] consumidor. Consistia no elo de comunicação entre fabricantes, comerciantes, expositores e consumidores. Cabe salientar que a comunicação não era equitativa, pois a mensagem central deriva da demanda industrial que usa a estética da sociedade para conceituá-la e concretizá-la.

Fig. 03: Otl Aicher , Pictogramas ca 1972.Fonte: tipógrafos .net

Exposições tornaram-se ferramentas de segmentos variados, desde o produtor industrial à politica nacional, pois saíram da esfera regional para a esfera global, e poderiam conferir ao país de origem visualidade e distinção.

Segundo Denis, a necessidade em melhorar a produção industrial veio acompanhando todo o processo de expansão do consumo. Isto significou a elaboração de regras, normas jurídicas, politicas voltadas a patentes, padronização de componentes, entre outras estratégias. No Brasil, as relações entre indústria e o design também eram motivos de preocupação entre pessoas ligadas a criação de produtos e afins. Existiam deficiências que se apresentavam desde a falta de técnicos até falta de pessoas qualificadas na área artística.

De acordo com o autor, no fim do século XIX e início do XX haviam diferentes ideias e diversificadas soluções sobre as problemáticas.

Por Eloana Santos Chaves, Huellingnton Robert da Silva, João Marcos Alberton


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARGAN, Giulio Carlo. A época do funcionalismo. In: Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Cia das Letras, 1992, (p.263-300).

DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008, capit. 4 e 5 (p.75 até a pág.135)

Postar um comentário

0 Comentários