MAX SORRE E A GEOGRAFIA MÉDICA E DA SAÚDE


INTRODUÇÃO

A Geografia Médica e da Saúde constitui uma das possíveis abordagens da Geografia Humana. Trata-se, a princípio, de um esforço teórico na análise sobre o meio — suas propriedades climáticas, físicas e sociais — na busca por correlações, mutualidades e multicausalidades acerca da insurgência e do desenvolvimento de patologias. O meio enquanto categoria espacial se revela, portanto, como um dos expressivos fatores que influenciam o alastramento de epidemias e a mutação de organismos patogênicos (ROJAS, 1998). Maximilien (Max) Sorre (1880-1962) foi um geógrafo francês responsável pelo aprofundamento de pesquisas com tal tendência, aproximando geografia e biologia na tentativa de compreender aspectos da natureza e das sociedades capazes de explicar a genealogia e a evolução das doenças. As pesquisas de Sorre se orientaram no intuito de entender a reciprocidade complexa entre o meio natural e o meio social na tentativa de superar uma mera constatação determinista e simplória. Sintetizando, trata-se de um exame metódico de causalidades particulares entre a “psicologia” e a "sociabilidade" de grupos étnicos distintos e o comportamento dos habitats em que estes convivem. 

MAX SORRE E A GEOGRAFIA MÉDICA E DA SAÚDE

Max. Sorre, em A Adaptação ao Meio Climático e Biossocial, organiza sua abordagem a partir da definição do que é, especificamente, o meio: trata-se, segundo o autor, de um termo com significado equivalente a ambiente ou meio ambiente que se refere, de um modo geral, aos fatores exteriores ao ser — este como sendo algo indissociável do meio. Isto é, grosseiramente, o indivíduo existe no e cercado pelo meio de tal modo que está submetido a sua complexidade que articula elementos climáticos, naturais e sociais.

Assim, Sorre desdobra o conceito de meio em três sentidos não necessariamente polarizados, mas sim coligados: o primeiro referindo-se ao complexo climático, o segundo ao vivo e o terceiro ao complexo social. No primeiro, o autor elenca as propriedades, as sucessões e variações climáticas em função das possíveis influências que o comportamento padrão ou mesmo os exotismos do clima pode suscitar nos organismos humanos. Ademais, a capacidade de influência das atividades humanas no equilíbrio climático e seus posteriores efeitos na própria saúde da população são problematizados. 

Apresentando uma visão pioneira ao abordar preocupações quanto aos prováveis males que as atividades industriais/urbanas, por exemplo, podem desdobrar no microclima e, por conseguinte, no seu respectivo meio e nas populações que ali vivem. No segundo complexo, o vivo, o autor eleva a importância dos seres vivos como agentes interventores e ao mesmo tempo subordinados em maior ou menor grau ao meio.

Já no terceiro complexo, o social, Max. Sorre pretende se encarregar do elemento humano em sua dimensão coletiva repleta de inter-relações mais ou menos dissimuladas num amplo espectro social. Trata-se de um mundo complicado em que tramas de símbolos, imagens, linguagem, etc. se confundem em elementos cotidianos de difícil delimitação e em que a objetividade se perde ou, na melhor das hipóteses, torna-se relativa. Multiplicando-se a isso, uma miríade de elementos convulsos e em movimento multiforme e policromático acentuam o nó catalisador do que se convém chamar de social (família, política, Estado, religião, arte, ciência, economia, etc.).

O complexo social, portanto, modifica substancialmente o meio e suas possíveis influências espontâneas e naturais: isto é, nem tudo está regrado pela ordem dos recursos da natureza ou pela dinâmica do clima, mas também pelos hábitos culturais dos povos (MEGALE, 1983). Portanto, o meio social aparece como uma variável impossível de ser subestimada (como se fez ao longo da história da geografia, especialmente com a ascensão dos modelos regionais vidalianos falazmente descritivos).

Orquestrada a trindade conceitual do meio (climático, vivo e social), Max. Sorre se volta para uma composição melodiosa capaz de ressaltar a íntima interação destas três categorias (como membros de um mesmo corpo) na situação psíquica e fisiológica dos indivíduos. O autor busca critérios para avaliar em que medida o meio pode, ao longo da vida, interferir psicologicamente nas pessoas. Nesse momento, Sorre se defronta com uma série contumaz de questões de caráter ético sobre a objetividade de seu empenho: como delimitar traços gerais do comportamento psíquico distinguindo por etnia? Há instrumentos objetivos capazes de medir quantitativamente os padrões de comportamento, de mensura-los no espaço? 

CONCLUSÃO

Apesar dos dados estatísticos ao qual Max. Sorre busca alicerçar-se, essa série de empecilhos coloca em posição relativa suas conclusões quanto à influência do meio geográfico sobre a natureza mental e fisiológica das pessoas. No entanto, não se pode ignorar a importância que o esforço empreendido pelo autor resultou para a Geografia Médica e da Saúde, sobretudo no que tange a se desenraizar de visões meramente deterministas e preconceituosas ou de se limitar a causalidades óbvias, enaltecendo principalmente o pioneirismo de sua pesquisa que exteriorizou novas possibilidades para a geografia — por meio de uma reaproximação entre a geografia humana e a física — tornando-a mais um instrumento de amparo ao bem estar humano. 

Por Anderson Rodrigo Pereira da Graça e Lawrence Mayer Malanski

REFERÊNCIAS:

SORRE, Max. A adaptação ao meio climático e biossocial — Geografia Psicológica. 1954.

MEGALE, Francisco Januário. Geografia e Sociologia de Max Sorre. São Paulo: Edusp, 1983.

ELISABETE DE PÁDUA (Org.). Ciências Sociais, Complexidade e Meio Ambiente. Campinas: Papirus, 2008.

ROJAS, Luisa Iñiguez. Geografia y salud: temas y perspectivas en América Latina. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 4, n. 14, p.701-711, out. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v14n4/0063.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2015.

SETTE, Denise Maria; RIBEIRO, Helena. Interações entre o clima, o tempo e a saúde humana. Interfacehs: Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sutentabilidade, São Paulo, v. 6, n. 2, p.37-51, ago. 2011. Disponível em: <http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/08/3_ARTIGO_vol6n2.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.

MOREIRA, Rui. Nossos Clássicos: Max Sorre. GEOgraphia, Niterói, v. 10, n. 5, p.135-136, out. 2003. Disponível em: <http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/132/129>. Acesso em: 12 jun. 2015.

NUNES, Bárbara Beatriz da Silva; MENDES, Paulo Cezar. Clima, Ambiente e Saúde: um resgate histórico. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 13, n. 42, p.258-269, jun. 2012. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/17840>. Acesso em: 12 jun. 2015.

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1 Comentários

  1. Boa noite! Desculpe fazer um comentário que não tem a ver com o blog, mas creio que quem fez o blog e resolveu usar esse template passou pelo mesmo problema que eu. Não encontro o tutorial ensinando a "instalar" o slider no blog em lugar algum e descobri seu blog por meio de fóruns e o usuário colocou o link reclamando sobre o slider há uns 5 meses atrás, cliquei e vim parar aqui. Vi que tinha conseguido resolver o problema e aqui estou eu pedindo, por favor se você pode me dizer qual a solução pra esse enigma? hahahaha Estou bem desesperada porque meu blog tem parceria com lojas e não posso deixá-lo muito tempo indisponível para o público. Desculpe meso a inconveniência de comentar aqui, mas é o desespero! rs Vou deixar o link do meu blog também caso queira responder por lá mesmo e pra você ver que não é mentira nem brincadeira de mal gosto! Se puder me enviar por e-mail (assiralli@outlook.com) o código, ou seja lá o que for que resolveu o problema do slide eu agradeço imensamente!

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    Larissa Bhantt'Olva.


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