Você já comeu uma solanacea hoje?

Figura 1: Exemplares da Familia Salanaceae: tomates, beringelas, batatas, pimentões.

Provavelmente em pelo menos uma de suas refeições diárias você ingeriu uma Solanaceae. Na macarronada, no purê de batata, no cachorro quente de final de tarde, no yakissoba, na lasanha ou simplesmente, na salada com sal e vinagre. 

A família de plantas Solanaceae, com cerca de 85 gêneros e 2300 espécies (Kissmann & Groth 1995), apresenta muitas espécies com enorme valor econômico, especialmente na alimentação. São representadas por árvores, arbustos, epífitas (plantas que vivem sobre outras sem retirar nutrientes delas), macrófitas aquáticas (plantas aquáticas) e lianas (trepadeiras).

O tomate (Solanum lycopersicon L.), a batata (Solanum tuberosum L.), a berinjela (Solanum melongena L.), o jiló (Solanum gilo Raddi.), e as pimentas vermelhas e verdes (Capsicum spp. L.) possuem grande interesse econômico, sendo utilizadas na alimentação; já a jurubeba (Solanum paniculatum L.) é utilizada na medicina popular e em conservas.

Diversos medicamentos são fabricados a partir de extratos de plantas deste grupo, outras apresentam compostos nocivos, que podem causar intoxicações graves em pessoas e animais, podem ser utilizadas como plantas ornamentais e ainda algumas são pioneiras na sucessão ecológica (toda substituição de uma comunidade por outra – começando pelo estabelecimento de um grupo resistente à condições inóspitas até uma comunidade que está em equilíbrio com o solo e o clima da região sem ser substituída por outra). A maria-pretinha (Solanum americanum Mill.), uma planta invasora comum em plantações; a fruta-do-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil.), espécie característica de cerrado (fruto apreciado pelo Lobo Guará, Chrysocyon brachyurus, espécie típica do cerrado) e, como plantas ornamentais, destacam-se o jasmim (Solanum jasminoides Paxton), a cereja-do-inverno (Solanum pseudocapsicum L.), o manacá-de-cheiro (Brunflesia uniflora (Pohl) D.Don) e a petúnia (Petunia hybrida Vilm.). 

Espécies de interesse farmacológico incluem a agridoce (Solanum dulcamara L.), e (Solanum viarum Dun.), ambas como fontes de corticosteroides (grupos de hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais, responsáveis pelo balanço eletrolítico e regulação do metabolismo) Solanaceas também são fonte de vários narcóticos poderosos, como os que ocorrem em beladona (Atropa L.), estramônio (Datura L.) e o tabaco (Nicotiana tabacum G. Don.), uma das plantas mais nocivas, sendo, entretanto, economicamente importante.

Dentre as espécies pioneiras, podemos citar alguns exemplos como: Cestrum calycinum Kunth., Cestrum sp L., Solanum pseudoquina A. St.-Hil, Solanum sanctaecatharinae Dunal. Relatos da literatura mostram que a ingestão de partes de plantas dos gêneros Solanum e Cestrum, causam intoxicação em bovinos, agressividade e até morte.

Diante deste pequeno relato sobre esta família tão numerosa em representantes, nossas refeições nunca serão as mesmas.

Por Tamara Francislaine Santana


REFERÊNCIAS:

Chada S.S., Campello E.F.C., Faria S.M. (2004) Sucessão vegetal em uma encosta reflorestada com leguminosas arbóreas em Angra Dos Reis, RJ. Revista Árvore. v.28, p.801-809.

Edmonds J.M., Chweya J.A. (1997) Black Nightshades – Solanum nigrum L. and Rekated Species. Promoting the Conservation and use of Underutulized and Neglected Crops.15. Rome: International plant genetic resources institute.

Furlan F.H., Lucioli J., Borelli V., Junior O.O.F., Rebelatto S.V., Gava A., Traverso S.D. (2008) Intoxicação por Cestrum intermedium (Solanaceae) em bovinos no estado de Santa Catarina. Acta Scientiae Veterinarie. v.36, p. 281-284.

Judd W.S., Campbell C.S., Kellogg E.A., Steven P.F., Donoghue M.J. (2002) Plant Systematics: a Phylogenetic Approach. Sunderland: Sinauer Associates.

Kissmann K.G., Groth D. (1995) Plantas Infestantes e Nocivas. São Paulo: Tomo III. BASF.

Linhares S., Gewandsznajder F. Biologia: Volume único 1ºed. São Paulo: Ática, 2005.

Souza V. C., Lorenzi H. (2005) Botânica Sistemática. Guia Ilustrado para Identificação das Famílias de Angiospermas da Flora Brasileira, baseado em APGII. Nova Odessa: Instituto Plantarum.

Rech R.R., Rissi D.R., Rodrigues A., Pierezan F., Piazer J,M.V., Kommers G.D., Barros C.S.L. (2006) Intoxicação por Solanum fastigiatum (Solanaceae) em bovinos: epidemiologia, sinais clínicos e morfometria das lesões cerebelares. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.26, p. 183-189.

Simpson M.G. (2010) Plant Systematics. 2º Ed. San Diego: Elsevier Press.

Vaccaro S., Longhi S.J., Brena D.A. (1999) Aspectos da composição floristíca e categorias sucessionais do estrato arbóreo de três subseres de uma Floresta Estacional Decidual, no Município de Santa Tereza – RS. Ciência Florestal. v.9, p.1-18.

Postar um comentário

0 Comentários