Figura 01 – Sadako Sasaki e os tsurus pela paz. Fonte: nebula.wsimg.com |
Prosseguindo nossa discussão acerca das formas de energia e seus impactos sobre o ambiente e saúde, vamos tratar hoje a respeito da energia nuclear com uma pequena introdução sobre sua descoberta e, em seguida, discutiremos o delicado assunto do efeito das bombas nucleares sobre o corpo humano. Ao final, sugestões de vídeos (atenção, cenas fortes).
FISSÃO NUCLEAR
A descoberta da fissão nuclear ocorreu em 1938 na Alemanha, mas vários cientistas haviam deixado este país na época, por causa do Partido Nazista, refugiando-se nos Estados Unidos da América.
Com receio que pesquisas sobre fissão nuclear dessem aos nazistas armas letais, cientistas nos EUA – principalmente o húngaro Leo Szilard (1898 – 1964) – conseguem, em outubro de 1939, apoio governamental para desenvolver suas pesquisas em energia nuclear. Até o fim da guerra, cerca de 2 bilhões de dólares foram gastos com o projeto Manhattan Engineering District, além de envolver o trabalho de aproximadamente 130 mil pessoas (sendo 21 premiados com o Nobel). A bomba atômica foi concluída em janeiro de 1945.
OS ALVOS E AS EXPLOSÕES
“Para que nunca mais se repita a hecatombe nuclear repleta de destruição, devastação, terror, dor e tristeza, é preciso rememorar o que aconteceu no Japão há 70 anos!” (EMICO, 2015).
“Não existe argumento mais forte em favor da paz, do que as imagens de Hiroshima devastada” - relatório de analistas militares (NATGEO, s.d.).
A primeira bomba, Little Boy (“Pequeno Garoto”) foi lançada pelo avião bombardeiro norte-americano B-29 Enola Gay (nome da mãe do piloto, coronel Paul Warfield Tibbets Jr.). Este avião foi escoltado por outras três aeronaves, equipadas com instrumentos de medição e fotografia. O avião não causou temor nas pessoas abaixo, acostumadas a grandes grupos de aviões bombardeiros sobrevoando a região; portanto, não fugiram para os abrigos subterrâneos.
Embora a defesa japonesa já estivesse bastante enfraquecida, a bomba de 50 quilos de urânio 235 foi lançada. Explodiu a 580 metros acima de Hiroshima, às 8h17min de 06 de agosto de 1945. Esta cidade foi escolhida por ser a única de importância industrial ainda atuante e sua população era, aproximadamente, de 350 mil pessoas (hoje possui cerca de 1,17 milhão de habitantes), dentre as quais, 85% eram civis. As condições climáticas também ajudaram na escolha da cidade como alvo da bomba.
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Figura 02 – Hiroshima após a bomba atômica. Fonte: BBC. |
A explosão se deu acima de um hospital, causando uma bola de fogo de cerca de 28 metros de diâmetro e liberando calor de 1.000.000° C, além de ventos de 1.500 km/h no local e onda dupla de choque, provocando a morte de aproximadamente 140.000 civis. O cogumelo atômico se ergueu a 16 quilômetros de altura, se alastrando por cinco quilômetros sobre a cidade.
“Num raio de 1 km, tudo foi instantaneamente vaporizado e reduzido a cinzas; até 4 km do epicentro os prédios e os seres humanos sofreram combustão instantânea e espontânea; num raio de 8 km, as pessoas sofreram queimaduras de 3º grau. (…) Dos 90 mil prédios da cidade, 62 mil foram completamente destruídos” (MOURÃO, 2005).
Três dias depois, o B-29 Bock´s Car lançou a bomba Fat man (“Homem Gordo”) sobre Nagasaki (cuja população era de 263 mil pessoas), levando à morte cerca de 70.000 civis.
“[...] numa explosão nuclear pouca gente morre de radiação. A grande maioria das vítimas morre pelos efeitos do calor e da força dos ventos sobre as edificações da cidade” (HUKAI, 2013).
CONTAMINAÇÃO
Os sobreviventes ao momento da explosão sofreram com ferimentos devido aos estilhaços de vidro e com a síndrome aguda da radiação (queda de cabelo, manchas na pele, hemorragia, vômito, diarreia, inflamação, febre, leucemia, aterosclerose…). Minutos após a explosão, houve a Kuroi Ame, “chuva negra”, com poeira e fuligem contaminados que, segundo relatos, possuía água muito fria - apesar de estarem em pleno verão -, e contaminou pessoas, terra, rios e lagos da região. Outro fenômeno ocorrido foram as estranhas “sombras atômicas” deixadas pela energia ao atingir pessoas (cujos corpos não deixaram outros vestígios) e objetos. Mais de 90% dos médicos da cidade haviam morrido ou estavam muito feridos, impossibilitados de ajudar as outras vítimas. Dos 45 hospitais da cidade, somente três tinham condições de oferecer alguma ajuda.
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Figura 03 – Nagasaki. Fonte: Japão em foco |
Dias depois da rendição do Japão, o presidente dos EUA solicitou relatórios sobre os efeitos das bombas, recrutando cientistas, engenheiros e militares para a tarefa, a qual durou dez semanas.
Os sobreviventes da bomba, conhecidos como hibakusha, viveram sob a censura dos EUA e discriminação do restante da população pelo medo dos possíveis efeitos da bomba. De acordo com a Cruz Vermelha, mais de dez mil pessoas foram atendidas em 2015 ainda com sequelas da radiação e estão vivos 200 mil hibakusha, 106 deles atualmente no Brasil.
“Como qualquer ser humano, no início o que sentiam era ódio e vontade de vingança. Não mudaram de opinião facilmente. Mas com o tempo concluíram que continuar com ódio não faz sentido, que a paz é algo que cabe a cada ser humano, e querem dar seu testemunho para que nunca mais se repita um ataque nuclear”, narrou Yasuyoshi Komizo, da Fundação para a Cultura da Paz de Hiroshima (KIY, 2015).
OUTROS ATAQUES AO JAPÃO
Mas o Japão vinha tendo enormes baixas já há vários meses. O General americano Curtis Emerson LeMay (1906-1990) comandou ataques sobre 16 cidades japonesas, incluindo Tóquio. Como resultado, mais de 100.000 mortos na noite entre 09 e 10 de março de 1945.
Este General teria afirmado, após a guerra: "Acredito que se nós tivéssemos perdido a guerra eu teria sido enforcado como criminoso de guerra. Felizmente, estou do lado dos vencedores” (MOURÃO, 2005).
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Figura 04 – Hiroshima hoje. Fonte: Japão em foco. |
Brevemente, discutiremos os efeitos da energia nuclear sobre saúde e ambiente, nos eventos de Tchernobil, Fukushima e Goiânia.
PARA SABER MAIS
Animação da BBC, com entrevista a sobrevivente - https://www.youtube.com/watch?v=9iogzOuKmpQ
História da menina Sadako Sasaki: http://www.japaoemfoco.com/historia-e-significado-do-monumento-da-paz-das-criancas/
Hiroshima Depois da Bomba (cenas fortes) - https://www.youtube.com/watch?v=0eVahk6yW78
Os mangás/animes (quadrinhos/animações japonesas) Hadashi no Gen e Hotaru no Haka retratam a Segunda Guerra e citam as bombas lançadas no Japão. Hadashi no Gen, por exemplo, é a história do próprio autor, sobrevivente da bomba (Hibakusha).
Por Anelissa Carinne dos Santos Silva
REFERÊNCIAS
EMICO, O. As Bombas Atômicas Podem Dizimar a Humanidade – Hiroshima e Nagasaki, há 70 anos. Estud. av., vol.29, no.84, São Paulo, May/Aug. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142015000200209>. Acessado em Mar 2016.
EXAME. Cruz Vermelha Ainda Trata Vítimas da Bomba de Hiroshima. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/cruz-vermelha-ainda-trata-vitimas-da-bomba-de-hiroshima>. Acessado em Mar 2016.
HUKAI, R. Y. Lições do Japão Sobre Energia Nuclear. Estud. av. Vol. 27, no. 78. São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000200017&lang=pt>. Acessado em Mar 2016.
LIY, M V. Sobrevivente de Hiroshima: “Um exército de fantasmas veio até mim”. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/05/internacional/1438781224_790907.html>. Acessado em Mar 2016.
MOURÃO, R. R. F. Hiroshima e Nagazaki: razões para experimentar a nova arma. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662005000400011&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em Mar 2016.
NATIONAL GEOGRAPHIC. Hiroshima Depois da Bomba. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0eVahk6yW78>. Acessado em Mar 2016.
NIPPOBRASIL. 68 anos da bomba atômica no Japão. Disponível em: <http://www.nippo.com.br/4.hiroshima/index.shtml>. Acessado em Mar 2016.
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