ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA

Por: Felipe Veiga
 
 Figura 01 – Orgânicos - Fonte: www.finococo.com
O consumo é um dos nossos grandes instrumentos de bem estar, mas em nossa forma tradicional de produção para consumo não há sustentabilidade. Precisamos aprender a produzir, e consumir os bens e serviços de uma maneira diferente da atual, visto que o modelo hoje utilizado de produção e consumo contribuiu para aprofundar alguns aspectos da desigualdade social e desequilíbrio ambiental. Mas as coisas não precisam ser assim, e existe um enorme potencial para que o consumo que nos trouxe a essa situação, se exercido de outra forma, nos tire dela.

O caminho passa pela adoção do consumo consciente. Devemos consumir levando em consideração os impactos provocados pelo consumo. O consumidor pode, por meio de suas escolhas, maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos dos seus atos de consumo, e desta forma contribuir para com a sustentabilidade ambiental. Isso é Consumo Consciente. Em poucas palavras, é um consumo com consciência de seu impacto e voltado à sustentabilidade. O consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e a  sustentabilidade do planeta, lembrando que esta implica em um modelo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. O consumidor consciente reflete a respeito de seus atos de consumo e como eles irão repercutir não só sobre si mesmo, mas também sobre as relações sociais, a economia e a natureza.

A escolha de produtos orgânicos é uma boa maneira de se praticar o consumo consciente. Este é muito mais que um produto sem agrotóxicos, sendo o resultado de um sistema de produção agrícola que busca manejar de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais (água, plantas, animais, insetos, etc.), conservando-os em longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos. Deste modo, para se obter um alimento verdadeiramente orgânico, é necessário administrar conhecimentos de diversas ciências (biologia, geologia, geografia, agronomia, ecologia, sociologia, economia, etc...) para que o agricultor, através de um trabalho harmonizado com a natureza, possa ofertar ao consumidor alimentos que promovam não apenas a saúde deste último, mas também do planeta como um todo. A produção orgânica obedece a normas rígidas de certificação que exigem, além da não utilização de agrotóxicos e drogas venenosas, cuidados elementares com a conservação e preservação de recursos naturais e condições adequadas de trabalho.
 
Figura 02 – Modelo de produção agroecológica 
Fonte: https://agropecuariadepequenoporte.files.wordpress.com
A produção orgânica segue princípios da Agroecologia, que é uma abordagem da agricultura que integra aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo. Basicamente a agroecologia é um sistema de produção que procura imitar os processos tal qual como ocorrem na natureza, evitando romper o equilíbrio ecológico que dá esta importante estabilidade aos ecossistemas naturais. Quando este sistema é agregado na prática às nossas vidas, compreende-se a lógica do sistema agroecológico.

 
Figura 03 – Joaninha alimentando-se de pulgão
Fonte: 
http://joaninhasnosotao.blogspot.com.br/
Uma planta crescendo em condições ideais desenvolve um vigor extraordinário e resiste normalmente aos vários eventos climáticos e biológicos que determinam o tempo de sua permanência na terra. Ela pode alimentar outros seres vivos sem sofrer danos significativos. Não se pode esquecer que os pulgões que a sugam, são um prato delicioso para as joaninhas. Quando exterminamos com agrotóxicos os pulgões, certamente são eliminadas também as joaninhas e os animais que delas se alimentam. Um inseto é considerado “praga” quando o ambiente se encontra em situação de desequilíbrio, pois na natureza onde o homem não interfere negativamente dificilmente isto ocorre. 

Compreendemos, portanto, a importância para o ambiente quando utilizamos a produção orgânica. Mas os benefícios vão além. Deixando de consumir alimentos produzidos de maneira convencional, que utilizam agrotóxicos, e consumindo alimentos orgânicos estaremos consequentemente, fortalecendo nossa saúde e os mecanismos de defesa de nosso organismo, contribuindo ainda com a preservação dos recursos naturais, com a recuperação da fertilidade do solo e com a qualidade de vida do trabalhador. 


Características
Convencional
Orgânico
Preparo do solo
Intenso revolvimento do solo
Pouco revolvimento do solo (Solo como um organismo vivo)
Adubação
Uso de adubos químicos
Uso de adubos orgânicos

Manejo de “pragas” e doenças
Uso de produtos químicos
A base de medidas preventivas e produtos naturais
Reflexos no ambiente
Poluição das águas e degradação do solo
Conservação do solo e fontes de água
Manejo de plantas invasoras
As ervas são consideradas daninhas e controladas por herbicidas, controle mecânico ou manual
As plantas espontâneas têm sua importância. O manejo é preventivo, físico, cultural, manual e mecânico
Toxidade
Alimentos com resíduos variados de contaminantes (agrotóxicos, metais pesados, antibióticos e hormônios)
Alimentos sem resíduos de contaminantes sintéticos ou com resíduos eventuais

Tabela 01 –  Manejo do solo 


Uma pesquisa publicada no Journal of Applied Nutrition (1993), realizada durante 2 anos em Chicago, EUA, no qual ficou comprovada a grande diferença entre o alimento orgânico e o produzido de maneira convencional. Foram analisadas varias amostras de maçã, batata, pêra, trigo e milho doce, comprovando-se que os alimentos orgânicos possuem uma diferença acentuada no conteúdo de alguns minerais essenciais. Comparado a alimentos produzidos com agrotóxicos, o alimento orgânico tem 65% mais cálcio; 73% mais ferro; 118% mais magnésio; 178% mais molibdênio; 91% mais fósforo; 125% mais potássio e 60% mais zinco. E, menos 29% de mercúrio, que é tóxico, além de nitratos. Pesquisas revelam que alimentos orgânicos apresentam mais nutrientes e teores mais elevados de matéria seca, carboidratos, energia e açucares do que os produzidos no sistema tradicional. 

Porém, os produtos orgânicos bem como outros produtos sustentáveis, por terem mais itens que os tradicionais, custam mais caro. Mas se analisarmos todo o processo, mais o ganho no custo pós-utilização, o resultado se inverte e passa a ser favorável aos produtos sustentáveis. Para poder entender as vantagens de um produto sustentável e avaliar o seu custo x benefício, deve-se estudar o assunto em uma perspectiva mais ampla, levando-se em consideração também os outros dois aspectos da sustentabilidade, além do econômico, que são o social e o ambiental. 

Como a sustentabilidade é uma preocupação recente, e ainda não foi totalmente entendida pelo consumidor, este não está disposto a pagar mais por ela. E esse é o problema: se não há demanda, não há escala, e sem volume os custos de produção são maiores, aumentando sensivelmente o produto final. Soma-se a essa situação um ambiente de crise como o atual, em que, por razões óbvias, corta-se tudo o que é possível para preservar o negócio. O que não está errado, numa análise pela ótica financeira, mas está totalmente equivocado pela visão de preservação do meio ambiente e do nosso futuro. Focando o momento atual pode ser uma solução viável, porém, a médio e longo prazo é suicídio coletivo.

O produto agrícola orgânico pode ser entendido como mais um produto que contém em si um valor agregado representado por sua qualidade diferenciada e certificada. Portanto, não se poderia taxar ou considerar os produtos agrícolas orgânicos como caros. E isso porque o conteúdo das políticas agrícolas recentes, de modo geral, recomendam insistentemente aos produtores, que agreguem valor aos seus produtos através de algum tipo de processamento que melhore suas características com o objetivo de obter melhor preço no mercado. E esse valor agregado de qualidade orgânica é plenamente reconhecido pelos consumidores, manifestando-se no mercado através da sua clara disposição para pagar preços mais elevados pelos mesmos. 

Para que se possa avaliar se um produto agrícola convencional ou orgânico, é caro ou barato, considera-se que há uma diferença entre preço elevado e produto caro. Determinante na realidade é o fato de o consumidor não dispor de dinheiro para comprar o produto e transfere para este a avaliação que define se o produto ou serviço é caro ou barato, pois é a condição econômica do consumidor que define o que é caro e barato, e não o produto em si.

Essa forma de compreender a questão do caro e barato vale no Brasil para os produtos agrícolas convencionais, orgânicos e talvez constitua a chave para entender toda a problemática social brasileira em relação à agricultura, alimentação e fome. No País é evidente que não há falta de produção de alimentos, nem de capacidade de produzir mais produtos convencionais e orgânicos. O que falta é capacidade de compra por parte da população.

Dessa forma poder-se-ia afirmar em relação aos produtos orgânicos, que estes estão situados dentro desse cenário e, portanto, são também afetados pela falta generalizada de poder aquisitivo da população, o que justifica o fato conhecido de que apenas uma parcela reduzida dos que ganham mais pode ter acesso aos orgânicos, ao passo que de modo geral, a maioria não os pode adquirir. 

Devemos preferir o produto orgânico para que haja a expansão no mercado de produtos orgânicos no contexto de um mercado que trabalha com preços mais elevados em relação aos produtos agrícolas convencionais. Isso poderia provocar um crescimento da oferta e da entrada de maiores volumes e variedades de produtos orgânicos nesse mercado, e o resultado poderia ser o fortalecimento da confiança do consumidor no setor. A maior oferta e mais fácil disponibilização desses produtos em quantidade e variedade para um número maior e crescente de consumidores, poderia permitir o surgimento de alguma economia de escala, contribuindo para a redução dos preços dos produtos orgânicos. Como os preços elevados constituem o motivo apontado com maior freqüência pelos consumidores como principal e decisivo obstáculo para que não adquiram um volume maior desses produtos, se poderia inferir que uma possível queda deles encorajaria um número maior de consumidores a adquirir produtos orgânicos.

Além disso, consumindo orgânicos estaremos amparando o pequeno agricultor, ajudando a reduzir a quantidade de agrotóxicos e fertilizantes químicos e assim, protegendo a qualidade de vida do solo, da água e do ar. Estaremos ajudando a restaurar a biodiversidade, a economizar energia, a reduzir o aquecimento global. Estaremos legando às futuras gerações a esperança de uma vida mais justa e mais harmoniosa nesse planeta. Enfim, consumindo orgânicos estaremos desenvolvendo nosso papel de agentes de transformação social e ambiental, praticando um exercício de cidadania. 


Para que todas essas mudanças aconteçam será necessário repensarmos nosso entendimento de como vivemos até hoje em sociedade, e como as pessoas, empresas e governos interagem. E apenas para finalizar, uma frase de Luiz Fernando do Valle:

 “As verdades de ontem não valem para o mundo que está nascendo que só terá futuro se o fizermos sustentável. Portanto, o custo da sustentabilidade não será medido por cifrões e sim pela nossa disposição de construir um futuro digno e um mundo muito melhor”.

REFERÊNCIAS

CARTILHA. Produtos organicos: A Saúde que vem do campo. Paraná: Palavra Viva, 2006. 14 pg.

CARTILHA. La Via Campesina, Biodiversidade e Reforma Agrária – Curitiba: Editora Gráfica Popular Ltda, Março de 2006. 39 pg.

DULLEY, Richard D; TOLEDO, Alessandra G. Preço dos Produtos Orgânicos: Uma Questão Controversa – Acesso em: 2010. Disponível em: http://www.planetaorganico.com.br/TrabDulleyAless.htm

AKATU, Instituto. O Que é Consumo Consciente. Acesso em 25 março 2014. Disponível em: http://www.akatu.org.br/consumo_consciente/oque

ORGANICO, Planeta. Saiba mais sobre orgânicos. Acesso em: 29 março 2014. Disponível em: http://www.planetaorganico.com.br/saiba.htm

DO VALLE, Luiz F. Um Produto Sustentável Custa Mais Caro? Acesso em: 30 março 2014. Disponível em: http://www.blograizes.com.br/um-produto-sustentavel-custa-mais-caro.html

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1 Comentários

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